segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Entre Verdades

Em um começo já iniciado,
sabia sem saber,
que o amor era o bastante.
Apaixonadamente suficiente.
Felicidade fiel.
E tudo o que eu queria,
ela desejava.

Em um depois sem fim,
sem saber já sabia,
que o amor não bastava.
Insuficiente passional.
Felicidade Infiel.
E tudo o que eu não queria,
era que ela desejasse.

Dos sonhos reais,
uma realidade de olhos abertos.
Da minha infância
ficou o sorriso.
E quando o amor me descobre,
o mesmo sorriso cobre
aquilo que sempre soube.

O que mais queria era o desejo de tudo.

Douglas Funny

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Gosto de Presente

Gosto de você agora
Não antes
Nem adiante
Agora.
Cedo pra falar do que vem
e tarde pra dizer o que já foi.
Vamos ficar no hoje
Sem se lembrar do ontem,
sem pensar no amanhã,
que tanto preocupam.

Desmemorize nossas histórias.
Escrevemo-las para quem quiser ler.
O que fizemos ou deixamos de fazer
não importa.
Seja leite ou água,
Derramado, passadas
Não choremos mais.

Esqueça o “felizes para sempre”.
Deixamos de viver aqui
tudo que é possível viver lá na frente
Criamos a espera
daquilo que nem sabemos o que é
sonhamos e não fazemos,
fazemos depois,
se fizermos.

Tenha em mente o que vê,
o que é capaz de ser.
Sinta o presente,
se faça presente
e ganhe o presente da vida.
Aprenda a gostar do que tem
aqui e agora.
Sem prazo.
Curto ou longo
só o café que te mantém acordado.
Realizando.
Mudando.
Moldando.

Goste de nós hoje,
pois não somos
e nem seremos
os mesmos.

Douglas Funny

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Estrelas a beira da estrada

Um breve momento,
antes de mergulhar na selva de concreto,
permito-me um respiro do trânsito
um último olhar para cima
para o céu que queria levar comigo
por não ser o mesmo de onde vivo.

O carro estacionado a beira da estrada
Todas as luzes apagadas
Encostado na natureza adormecida
Sussurrando para mim
Ali, deitado sobre o capo
Pesco estrelas,
uma maior que a outra,
uma mais brilhante que a outra.
Que não cabem no meu porta-malas,
são apenas minhas passageiras.

Em meio à escuridão,
escondido na noite,
observo as luzes brincando
e aguardo sonhos cadentes.
Sem fim me vejo assim,
delírios na imensidão
que não me esforço pra tocar
e sinto como se estivessem dentro de mim.

Elas vivem na selva,
escondidas na noite
a me observar.
Estrelas passageiras
que me beijam ao cair da noite
Ao cair o sono
Ao adormecer, toco-as novamente.

Douglas Funny

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Ventos de Marujá

O barco rasgava o véu do mar
que se disfarçava de rio
Fortes ventos me abraçaram
Ventos que empurraram o sol mais pra lá
e trouxeram as nuvens para cá,
pintaram o céu de cinza
e escureceram a água,
em um sopro só
Mudavam de direção a cada curva,
carregavam-me junto.

Ali na proa, deitei
e criei o meu sem fim
Fitas coloridas,
presas as cordas do mastro,
eram as minhas estrelas de um céu nublado
daquela quase noite
Eram sacudidas pelos ventos
que cantavam para mim
músicas de um destino à deriva.

O céu se desfez em degradê,
o espelho do mar se perdeu
As luzes já não eram de Marujá
A brisa levou os pescadores,
mas os ventos nunca me deixaram
E assim, ao acaso,
faço e me desfaço por aí.

Douglas Funny

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Mau sinal

De todos os meus mundos
esse é o que eu mais detesto.
Onde a desistência debruça sobre o meu peito
com o disfarce de sono pesado.
Uma tristeza mascarada me encara
enquanto a depressão estende a corda,
a espera da minha sentença.
Todos os medos sobrevoam o meu corpo,
como corvos atrás da carniça,
somente pelo fascínio de me amedrontar.
Em meu sangue ferve a mais profunda agonia,
de assistir o terror, caçoando de mim,
e as últimas gotas de esperança
são desencorajadas pela verdade.
Apenas o fim é visto no plural.

Alienado pela dor e a sangria do âncora,
desligo a TV.

Douglas Funny

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Desses dias

Dos dias que te vi
Dos dias que te toquei
Dos dias que te beijei
Dos dias que tomamos café juntos
almoçamos juntos
e jantamos mais juntos
Dos dias que eu reclamava das panquecas
e você do meu arroz
Dos dias que tomamos chuva
e sonhávamos com um carro
Dos dias que você riu das minhas piadas
por pior que elas fossem
Dos dias que te tirei do sério
Dos dias que brigamos
os mesmos que nos reconciliamos
e os mesmos que brigamos de novo
Dos dias que dormi na sala
Dos dias que dormiu na casa dos pais
Dos dias que eu tinha que ver seus pais
Dos dias que eu te ligava
e deixava você acabar com meus créditos
Dos dias que eu falava do tempo
e você da sua roupa
Dos dias sem palavras
Dos dias da dança
Dos dias do barzinho
Dos dias dos estudos
Dos dias chatos do trabalho
Dos dias dos filmes
e dos filmes de nossos dias
Dos dias da sua Coca-Cola
Dos dias da minha cerveja
Dos dias em preto e branco
Dos dias coloridos
Dos dias que a Tv não ligava
Dos dias que você não ligava
Dos dias que eu desligava
Dos dias que eu prestava atenção
Ou te emprestava
Ou não prestava pra nada

Dos dias demorados sem você
e dos breves ao seu lado
Dos dias que queria estar longe
Dos minutos suficientes
Das horas sofridas
Do dia-a-dia
De desejos e incertezas
Da certeza de um desejo
Dos dias que te amei
e que me amou também

Dos dias que abri os olhos pra te ver
Dos dias que fecho os olhos pra te ter.

Douglas Funny

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Profundo Amor

Busco a liberdade
me prendendo a correntes.
Um coração amordaçado,
mas sem deixar de amar.

Preso a superfície,
não consigo mergulhar.
Sinto a maresia
e algo a me puxar.
Não atinjo o fundo do mar do amor,
Pois um coração aprendeu a nadar.
Sente o frio dos ventos
e perde o calor do mar.

Na confusão de sentimentos,
A imagem do pôr-do-sol
perde-se no horizonte da alma.
O céu vira mar,
o mar vira céu,
paixões sem perder o ar,
o amor não se deixa levar.

A deriva,
uma correnteza pode me pegar.
A praia não vou encontrar,
no raso também não posso viver.
As ondas das emoções não cessam,
mas tempestade também não há.

De cima, posso ver mais.
Para se arriscar nas profundezas
é preciso me entregar,
deixar de bater os braços
e de uma única direção.

Egoísmo que me faz respirar.
Se o amor quer me abraçar,
que o fundo do mar venha me buscar.
Sei que uma hora vou cansar,
mas quero descobrir
o quanto consegue prender o ar.

Douglas Funny

terça-feira, 9 de junho de 2009

Palavras não ditas

Eu sei que já ouvi,
mas não me canso de você
e de suas histórias repetidas.
Basta começar, para saber como terminará.
Gestos gravados,
frases que já viraram jargões.
Textos mais que decorados,
porém me perco se precisar contá-los.
A sua voz faz a diferença.
Palavras ditas,
cantadas para mim.
Soam como versos,
notas em perfeita harmonia.
Prendem meus olhos
e elevam minha alma.

E você fica tão brava quando me vê assim.
Sabe que eu já não estou mais lá,
fora a escutar.
Sei de muito mais, mesmo que não tenha dito.
Mas me deixei levar por você.

Sei como começa e termina.
No meio eu me perco em você.

Douglas Funny

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Quis assim

Eu pedi um mundo imperfeito
para que as coisas dessem errado.
Nem tudo,
pois vivo dos meus acertos.
Foi apenas uma forma de obstrução,
pedras no meu chão,
para que eu pudesse superá-la.
E lá estaria meu final feliz.
Mas meu filme não tem duas horas,
muito menos um "Feliz para sempre".
O eterno não existe no mundo que criei.

Pois bem, é imperfeito e pronto.
Entre erros e acertos,
vou me virar.
Inventei o meu mundo assim,
cheio de furos e remendos,
pelo jeito ele também não quer parar.

Espere aí.
Se nada é eterno no meu mundo,
por que procuro o meu amor?
Este era pra vida toda
e uma vida toda não existe.
Mais finais pra essa história,
não quero ver quando tiver que escolher.

Tanta vida pra viver
e eu fui inventar de escrever roteiros.

Douglas Funny

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Tenho

Tenho você
E você me tem
Não como posse
Tenho você do meu jeito
E você me tem do seu jeitinho
Sem delimitar, impedir ou prender
Mas eu te tenho
E você me tem.

Quantos outros querem ter alguém
Eu te tenho aqui
Do meu lado, próximo
Só não lhe digo que te tenho
Posso cortar suas asas
Você pode se sentir menos livre
E quando voa tudo fica mais belo
Vejo-te ir tão longe
Mesmo segurando sua mão
Vou junto e você nunca diz não.

Tenho muitas coisas
E algumas me têm
Não assim
Você não é coisa
E isso não é coisa que se diga
Também não digo que te tenho
Porém, acho você já sabe
Tenho você
E você me tem.

Douglas Funny

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Vendem-se Formas de Pensar

Engraçado imaginar
Eu compro formas de pensar
Chega de conhecimento, status ou capital
Produto então,
Idade da pedra total
O poder de aquisição vai além
Adquiro inteligências
Afinal, se preciso escolher
Quero me entreter
E propagar
Sem saber ou entender
Conectado e muito bem filtrado
Infiltrado
Não quero fazer parte
Deixo a interatividade
Desejo ser
Sou o começo e o fim
O meio e a mensagem
E ainda faço girar
Tudo e mais um pouco
Tenho poder e posso aguentar.

Engraçado imaginar
Eu compro formas de pensar.

Douglas Funny

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Fins

Vou esperar para escrever a próxima linha
Após uma, vem a outra
Desenfreadas
Porém, vou aguardar
Afinal, faz parte do instinto humano
Esperar até o último suspiro
Para enfim, não finalizar
Dar fôlego para mais suspiros.

Mudar é totalmente compreensível
Mas requer sacrifícios
Como se levantar da acomodação
E isso só acontece pertinho do incomodo
Aquele de mudar
Quando não tem outro jeito
Não se mexe no que já está bom
E o bom estável é melhor que o bom em movimento.

O que não se modifica, parece eterno
Cálice sagrado, uma busca sem fim
Ninguém quer ver o ponto final
Essa que é a verdade
Medo dos pontos que costuram
E formam outra coisa
Que fiquemos sem términos
Sem começos.

Se escrever a próxima linha
Terei início
Mas se estagnar
Mente aberta para quem ler
Terá que criar, continuar e ainda por um fim
E se a poesia acabar
Não haverão outras linhas
Melhor mudar
Queremos outros começos.

Douglas Funny

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O olhar da folha em branco

A morbidez dos fatos
O desleixo dos acontecimentos
Embriaga os raros
Com fome de estrondos,
que não se saciam com lacunas dos passos.
Esses cobertos de cimento
Impedem o expresso da primavera,
com o frio cortante do desfecho.

Não há fluidez
Nem tão pouco correnteza
Há o vago criado pela barragem
Vazio de quem se espera algo
Infinito terreno sem vida
Espaço demarcado
onde se cultiva o fim sem ter começo.
Um branco que não comporta todas as cores
O indiferente preto no branco faz falta.

O olhar da folha em branco
Encanta
Provoca.

Douglas Funny

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Coisa de Mãe

Minha mãe já fez muita coisa,
eu fui uma delas.
Ela diz que foi uma das melhores que já fez,
e todo dia me obriga a acreditar.

Sei que já lutou muito por mim,
apesar de não querer que eu brigasse por aí.
Serviu de exemplo, mesmo quando só complicava.
Meu pai dizia que ela mimava demais os filhos,
mas ela não escutava.
E quando eu teimava, ela dizia:
escuta o seu pai.

Ganhei mais bronca do que sobremesa.
Mais brócolis do que brinquedos.
Mais afagos do que desapegos.
Já fiquei triste várias vezes,
e drama infantil só se cura com colo de mãe.
De cama, doente e febril,
ou cansado da escola, fingindo a pior dor do mundo,
lá estava ela para abraçar minhas causas,
levar chá e bolachas,
pesar minha consciência.

Torcedora, incentivadora,
professora, médica, juíza, cozinheira.
Minha mãe já foi muita coisa.
Cresci com muito do que veio dela.
Sempre adorou a lua,
parava para olhá-la à noite
e dizia que queria tocá-la.
Puxei isso também.
Não preciso ir até a lua,
mas vou levar minha mãe lá.
Afinal ela já fez tanta coisa por mim,
inclusive eu.

Pensando em minha mãe,
volto a ser criança.
Só de pirraça.
Que saudade daquele abraço.

Douglas Funny

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Uma briga de tempos

A partir de hoje o tempo correrá.
Horas voarão.
Os minutos passarão em um piscar de olhos.
Segundos não existirão mais,
esquecidos e enterrados.
A eternidade pode até existir,
mas chegarei bem perto do seu fim.
Só porque eu quero que o tempo passe.
Retomarei o posto que já foi meu,
de chefe.
Criei o tempo, mas ele nunca me obedeceu.
Se acha o todo poderoso.
Porém, o farei mudar.
Será efêmero.
Como muitos momentos da minha vida,
que não quis que fosse,
mas ele fez assim.
E assim será.
O bom durará pouco.
E quando me cansar, mudarei novamente.
Se ele quiser correr,
amarrarei seus ponteiros.
Ficará estagnado
e sentira como é ver um fim sem poder alcançar.
Seja como for,
Eu mando no agora que não existirá mais.
Contrariados.
Passado, presente e futuro.
Serão outros tempos.

Douglas Funny

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Batido

Ensinei meu coração
a não entender as coisas de primeira mão.
Demora a decifrar,
Insiste em esperar até o último minuto.

Só noto que meus amigos foram embora,
ao cair da noite, e restam as sombras como companheiras.
Se encontro a mulher da minha vida,
me dou conta quando ela está longe.
Quando aquele coração já não bate por mim.

Engraçado pensar que,
talvez,
este meu coração não bata por mim,
mas bata em mim.
Quem sabe assim
paro de me perder em devaneios
e passe a ouví-lo mais.

Douglas Funny