quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O olhar da folha em branco

A morbidez dos fatos
O desleixo dos acontecimentos
Embriaga os raros
Com fome de estrondos,
que não se saciam com lacunas dos passos.
Esses cobertos de cimento
Impedem o expresso da primavera,
com o frio cortante do desfecho.

Não há fluidez
Nem tão pouco correnteza
Há o vago criado pela barragem
Vazio de quem se espera algo
Infinito terreno sem vida
Espaço demarcado
onde se cultiva o fim sem ter começo.
Um branco que não comporta todas as cores
O indiferente preto no branco faz falta.

O olhar da folha em branco
Encanta
Provoca.

Douglas Funny

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Coisa de Mãe

Minha mãe já fez muita coisa,
eu fui uma delas.
Ela diz que foi uma das melhores que já fez,
e todo dia me obriga a acreditar.

Sei que já lutou muito por mim,
apesar de não querer que eu brigasse por aí.
Serviu de exemplo, mesmo quando só complicava.
Meu pai dizia que ela mimava demais os filhos,
mas ela não escutava.
E quando eu teimava, ela dizia:
escuta o seu pai.

Ganhei mais bronca do que sobremesa.
Mais brócolis do que brinquedos.
Mais afagos do que desapegos.
Já fiquei triste várias vezes,
e drama infantil só se cura com colo de mãe.
De cama, doente e febril,
ou cansado da escola, fingindo a pior dor do mundo,
lá estava ela para abraçar minhas causas,
levar chá e bolachas,
pesar minha consciência.

Torcedora, incentivadora,
professora, médica, juíza, cozinheira.
Minha mãe já foi muita coisa.
Cresci com muito do que veio dela.
Sempre adorou a lua,
parava para olhá-la à noite
e dizia que queria tocá-la.
Puxei isso também.
Não preciso ir até a lua,
mas vou levar minha mãe lá.
Afinal ela já fez tanta coisa por mim,
inclusive eu.

Pensando em minha mãe,
volto a ser criança.
Só de pirraça.
Que saudade daquele abraço.

Douglas Funny

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Uma briga de tempos

A partir de hoje o tempo correrá.
Horas voarão.
Os minutos passarão em um piscar de olhos.
Segundos não existirão mais,
esquecidos e enterrados.
A eternidade pode até existir,
mas chegarei bem perto do seu fim.
Só porque eu quero que o tempo passe.
Retomarei o posto que já foi meu,
de chefe.
Criei o tempo, mas ele nunca me obedeceu.
Se acha o todo poderoso.
Porém, o farei mudar.
Será efêmero.
Como muitos momentos da minha vida,
que não quis que fosse,
mas ele fez assim.
E assim será.
O bom durará pouco.
E quando me cansar, mudarei novamente.
Se ele quiser correr,
amarrarei seus ponteiros.
Ficará estagnado
e sentira como é ver um fim sem poder alcançar.
Seja como for,
Eu mando no agora que não existirá mais.
Contrariados.
Passado, presente e futuro.
Serão outros tempos.

Douglas Funny

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Batido

Ensinei meu coração
a não entender as coisas de primeira mão.
Demora a decifrar,
Insiste em esperar até o último minuto.

Só noto que meus amigos foram embora,
ao cair da noite, e restam as sombras como companheiras.
Se encontro a mulher da minha vida,
me dou conta quando ela está longe.
Quando aquele coração já não bate por mim.

Engraçado pensar que,
talvez,
este meu coração não bata por mim,
mas bata em mim.
Quem sabe assim
paro de me perder em devaneios
e passe a ouví-lo mais.

Douglas Funny