quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Tempo que não diz

A beleza nasce fora
e me incorpora.
Apega-se.
Eu me apego.
Laço que prende.
Nó que não desata.
Tempo que cria.

O problema de quem nunca teve
é o de ter.
Querer vira posse.
E o poder vira fim.
Final estagnado.
Sem futuro.
Tempo que apaga.

Busca abrigo em si.
Descobre que verdades são mentiras.
O medo se desafia.
Encontra o que perdeu.
Resgata das cinzas o brilho
que a fonte cobriu, mas não matou.
Tempo que renasce.

Douglas Funny

domingo, 27 de janeiro de 2008

O Estranho

Quem é você que me cumprimenta com um sorriso?
Que me diz "bom dia" numa terça-feira chuvosa.
Quem é você que distribui simpatia dentro do elevador amarrotado?
Que pergunta em que andar vamos descer.
Quem é você que pega a latinha que joguei no chão e coloca na sexta do lixo?
Que não xinga, reclama ou critica.
Quem é você que tenta arrancar um sorriso para melhorar o dia de alguém?
Que se vestiria de palhaço ou transformaria a mesa de trabalho em um palco.
Quem é você que ajuda um desconhecido de muletas a subir uma escada?
Que guia uma pessoa que não sabe para onde ir.
Quem é você que devolve a bola depois que chutaram na sua janela?
Que só diz "cuidado para não se machucarem".
Quem é você que acolhe que chora de tristeza e vibra com que chora de alegria?
Que não sente sozinho. Apenas sente.

Quem você é não importa.
O que todos somos agora, sim.

Douglas Funny

domingo, 20 de janeiro de 2008

Olhe por ti, Destino

Perdi-me em mim.
Tantos pensamentos,
visões, delírios, premonições,
lembranças.

E o passado sonha? Não.
Mas fica e se apega.
Às vezes ele sente
ou faz sentir.

Aquilo que foi irreal,
pode se perder como mera brincadeira infantil,
mas também pode se prender
e fingir que tem vida.
Já o real não se faz personagem,
apenas é.
Primeiro é preciso ser, para depois viver.

Nas entrelinhas,
queremos um final de novela.
O sonho se realiza para os mocinhos,
fracassa para os vilões.
Termina pela mão do destino
ou pela caneta do roterista.

Perdi-me entre verdades e mentiras,
entre sonhos e desilusões,
entre real e o irreal.
E quando a imaginação brincou comigo,
mente e coração se confundiram.
O sonho se fez personagem,
o real ficou mágico
e meu corpo, lúcido, flutuou.
Mas meu olhar de criança não brilhou mais.
O jogo terminou,
aquele tempo parou
e o sonho acabou.
Perdeu-se de mim.

Vou por a culpa no destino.
E ao seu acaso.
Afinal a música não toca mais.
Porém, Sr. Destino, venho lhe pedir.
Se sou apenas um fantoche na sua orquestra,
um instrumento da imaginação.
Caso a minha melodia já esteja no papel,
deixe que eu escreva a letra.

Douglas Funny

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Rítmico

Meu coração não é o mesmo
Já encontrou estrelas
Já beijou o chão
Amarrado, amado
Partido, dilacerado
Horas estava, outras não
Percorreu labirintos,
hesitou no reto
Quis o inalcançável
e não soube olhar para o lado
Negou-se a ouvir seus próprios batimentos
Pulsou por alguém
Cujas batidas também não escutava
Aprendeu a viver sozinho
Quando só não podia
Algumas vezes se dividiu
Outras se cegou
Não sabia o que queria.

Nunca disse que errou
Caso tenha chorado guardou para si
Sabe que tudo que buscou
O sofrimento que passou
Valeu a pena
Não pela dor,
mas por poder amar.

Douglas Funny

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Linha Amarrada

Não sei o motivo
Mas sempre volto pro mesmo lugar
Não o ponto de partida
Ou o de chegada
Apenas um ponto
Que não tem a forma de um ponto
Simples.

O desafio é maior
O desenho é fácil de imaginar
Difícil é não me prender aos detalhes
Que guardo, como se estivesse diante dde mim
Agora...
Pena.

Voltei sim
Mas não do jeito que saí
Que não foi pela porta da frente
Só agora entendoque não foi ponto para ninguém
Nem mesmo um ponto final
Ficou aberto e fechado ao mesmo tempo.

Pior que saber que não tem volta
É não saber se tem
Ficar onde está, mesmo que seja pior
O ponto não é esse
Porque não depende só de você
É preciso que duas linahs se cruzem,
para ter um ponto em comum.

Douglas Funny

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Entre ois e olas

Um oi sem compromisso
Um olá receptivo.

Olhares virtuais
Risadas longínquas
A amizade correu por cabos
Presença tão distante
que um dia se fez presente
E a separação que nunca existiu
Não era pronunciada
O perto só comprovou
Aquilo que já era verdade
Os olhares e risadas virtuais
eram sinceras.

O que antes não foi
Hoje é e mais um pouco será
Uma aposta no acaso
Agora aposta no eterno
Pois a transparência gera confiança
Pureza rara que nasceu assim.

Um oi sem compromisso
Um olá receptivo.

Douglas Funny

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Cinco Estações

Numa troca de olhares,
nasceu o sentimento ardente
O desejo febril
Como se mais nada importasse
O tempo parava a sua volta,
enquanto corriam contra o tempo
Como se fosse um último suspiro
A única vez que se repetiu.

O vento gritava no silêncio
Carregava nomes
que acordavam nossos corações
Na busca do único sorriso sincero
Antes que as folhas caíssem
e o vento levasse as risadas
Deixando a solidão sem abraço
A pétala ressecada pela saudade.

Eram apenas dois
Sem calor, distantes
Sem o fruto da paixão
O amor alado ficou frio,
abrigado no esquecimento
Com asas imóveis
Tentou aquecer a chama
que não quis se apagar.

A luz planta o campo
O botão se abre em flor
A beleza se ergue diante dos olhos,
regada por lágrimas
Era o completo fora
O vazio por dentro
Um belo falso, mas que não finge ser
Um finjo ser, para não deixar de existir.

Se a coragem fosse maior que o medo,
paredes não seriam construídas
A verdade seria amiga da união
Os dois seriam um
e a rosa, da estrofe passada, seria sua
Não digo que há felicidade plena
Porém, se quiser tentar
Desça comigo nessa estação.

Douglas Funny

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Primeira

Iniciar é a arte do começo
ou de um recomeço
É o ponta-pé inicial
Momento primordial
Um novo parágrafo
O próximo capítulo
depois do ponto final.

É o medo do desconhecido
Um passo em falso na persistência do erro
É o primeiro dia
Abertura das portas de uma nova era

Nascimento
Criação a partir da idéia
O primeiro garrancho na folha pura
O primeiro "A" de um amanhã.

Douglas Funny